Na Cabeceira: Água para Elefantes

Desde que perdeu a esposa, Jacob Jankowski vive numa casa de repouso, cercado por senhoras simpáticas e fantasmas do passado. Durante 70 anos ele guardou um segredo: nunca falou a ninguém sobre o período de sua juventude em que trabalhou no circo. Até agora. Aos 23 anos, Jacob era um estudante de veterinária, mas teve sua vida transformada após a morte de seus pais num acidente de carro. Órfão, sem dinheiro e sem ter para onde ir, ele deixa a faculdade antes de fazer as provas finais, e desesperado, acaba pulando em um trem em movimento, o Esquadrão Voador do Circo Irmãos Benzini, o Maior espetáculo da Terra.
É sob as tendas que Jacob se apaixona por Marlena, a jovem estrela do número dos cavalos, e se encanta com Rosie, a elefanta que deveria ser a solução para os problemas do circo, mas que parece incapaz de aprender qualquer coisa. São lembranças de um mundo habitado por aberrações e palhaços, que vigoram leis rigorosas e até mesmo irracionais. Uma atmosfera de encanto, repleta de maravilhas e paixões, mas que também abriga dor e ódio. Para o jovem Jacob, esse universo é tanto sua salvação quanto seu calvário.

Às vezes é preciso arriscar. Você vê um livro intitulado “Água para elefantes”, lê a sinopse e conclui que a história gira em torno de um circo. Então, você o segura ou devolve à prateleira? Assim como Jacob se atreveu e acabou parando dentro de um trem de circo, eu me aventurei e acabei parando dentro dessas páginas. Esse livro foi um exemplo pra mim no quesito “Um livro pode ser muito bom não pela magnitude de uma história, mas pela forma como ela pode ser bem contada.”

A trama vem desenhada em flashbacks. Inicialmente, somos apresentados a um Jacob Jankowski  com 90 ou 93 anos, como ele mesmo não tem certeza e ao longo do livro vemos também um Jacob com 23 anos. O narrador personagem é excelente, traz um toque ácido em suas palavras, um leve sarcasmo, uma tristeza por detrás de um ponto final e nostalgia entre algumas vírgulas.
Ficamos em silêncio até a noite cair e então, hesitante, ela começa a falar. Ela esconde os pés entre minhas canelas, brinca com a ponta dos meus dedos e, em pouco tempo, as palavras estão jorrando de sua boca. Ela não precisa  nem espera resposta nenhuma, então eu simplesmente a abraço e afago o seu cabelo(...)Fico deitado imóvel, saboreando a sensação do seu corpo contra o meu. Tenho medo de respirar e quebrar o encanto.
Realista. Seria essa a palavra usada por mim para classificar essa narrativa já que as descrições e a linguagem empregada são verdadeiras, são reais. Algumas vezes, enquanto eu lia deitada e iluminada por uma luzinha, tinha a impressão de que eu podia ouvir o apito do trem bem longe, sentir o cheiro das frutas descascadas dadas aos animais ou o vento balançando a grande lona do circo.

Não estou dizendo que a história em si é maravilhosa porque é inovadora ou única, mas acredito que valha a pena pelo modo como o narrador a apresenta, o envolvimento que você ganha com o livro e o desfecho surpreendente. Você reflete sobre a passagem do tempo, sobre as mudanças que ele despeja na sua mente e no seu corpo e isso assusta um pouco. Você vê que o que se passa dentro de um circo pode não ser tão mágico assim, vê uma história de amor surgindo, mas acredito que o livro trate mais de vida, formas de encarar os obstáculos e não deixar de tentar até quando se acha que é o fim.
Porque, de fato, a vida é o maior espetáculo da Terra.

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